Rubens Vinícius da Silva
Há muita gente que diz estar torcendo "contra"
ou mesmo torce "a favor" do governo Bolsonaro. O mesmo se observa com
relação à prisão do ex-presidente Lula, bem como às demais disputas no interior
das burocracias partidária, sindical, estatal e governamental. Afinal de
contas, é possível sair desse círculo vicioso que é a política burguesa?
O grande problema de tal pensamento (simplista e
reducionista, diga-se de passagem) é desconsiderar
o fato de que, no jogo de cartas marcadas que é a política institucional no
capitalismo, a classe dominante - independente de quem ocupar o poder de
estado, seja "progressista" ou conservador - sempre está ganhando de
goleada.
Daí a necessidade de intensificar a luta cultural,
evidenciando que seja qual for o político profissional, sua respectiva
ideologia e partido político que esteja no poder, todos atuam no sentido de
garantir a reprodução ampliada do capital e a manutenção das relações de exploração
e dominação de classe características do capitalismo.
Há uma forte tendência a greves e radicalização das lutas
sociais, em virtude das medidas do governo atual (que como todos os demais só
age no sentido de satisfazer e gerir os negócios comuns da burguesia). Contudo,
tais movimentos grevistas tendem a emergir controlados pela burocracia
sindical, estudantil e partidária, as quais têm interesses próprios, vinculados
à manutenção da sociedade atual. Em virtude disso, é fundamental constituir
outras formas de organização, autárquicas, onde inexista a cisão entre
dirigentes e dirigidos, bem como a reprodução da divisão social do trabalho.
Somente com a articulação e generalização da
auto-organização, aliada ao projeto autogestionário - ou seja, a um projeto de
transformação total e radical do conjunto das relações sociais capitalistas -
será possível avançar na denúncia de todos os governos, partidos e demais
organizações burocráticas, que dissimulam seus verdadeiros interesses
(conquista e manutenção de seus privilégios de classe) e professam interesses
falsos (representar o "povo", ou os "oprimidos").
A política burguesa não é um jogo de futebol: mais do que
torcer - contra ou a favor - de determinado governo, partido ou político
profissional, é essencial demonstrar que não devemos nos deixar dominar pela
aparência dos fenômenos. É preciso negar e denunciar radicalmente o jogo de
cartas marcadas que é a política institucional no capitalismo e se
auto-organizar, visando constituir outra sociedade, com outras regras e que não
se fundamente mais na competição, mercantilização e burocratização das relações
sociais.
Para finalizar, é sempre bom relembrar a letra da canção,
na qual as supostas diferenças entre esquerda e direita, direitos e deveres, os
patetas e os poderes explicitam que se trata de dois lados da mesma moeda
chamada capitalismo: "nossos sonhos são os mesmos há muito tempo, mas não
há mais muito tempo pra sonhar."
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