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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A POLÍTICA BURGUESA NÃO É UM JOGO DE FUTEBOL



Rubens Vinícius da Silva

Há muita gente que diz estar torcendo "contra" ou mesmo torce "a favor" do governo Bolsonaro. O mesmo se observa com relação à prisão do ex-presidente Lula, bem como às demais disputas no interior das burocracias partidária, sindical, estatal e governamental. Afinal de contas, é possível sair desse círculo vicioso que é a política burguesa?
O grande problema de tal pensamento (simplista e reducionista, diga-se de passagem) é desconsiderar o fato de que, no jogo de cartas marcadas que é a política institucional no capitalismo, a classe dominante - independente de quem ocupar o poder de estado, seja "progressista" ou conservador - sempre está ganhando de goleada.
Daí a necessidade de intensificar a luta cultural, evidenciando que seja qual for o político profissional, sua respectiva ideologia e partido político que esteja no poder, todos atuam no sentido de garantir a reprodução ampliada do capital e a manutenção das relações de exploração e dominação de classe características do capitalismo.
Há uma forte tendência a greves e radicalização das lutas sociais, em virtude das medidas do governo atual (que como todos os demais só age no sentido de satisfazer e gerir os negócios comuns da burguesia). Contudo, tais movimentos grevistas tendem a emergir controlados pela burocracia sindical, estudantil e partidária, as quais têm interesses próprios, vinculados à manutenção da sociedade atual. Em virtude disso, é fundamental constituir outras formas de organização, autárquicas, onde inexista a cisão entre dirigentes e dirigidos, bem como a reprodução da divisão social do trabalho.
Somente com a articulação e generalização da auto-organização, aliada ao projeto autogestionário - ou seja, a um projeto de transformação total e radical do conjunto das relações sociais capitalistas - será possível avançar na denúncia de todos os governos, partidos e demais organizações burocráticas, que dissimulam seus verdadeiros interesses (conquista e manutenção de seus privilégios de classe) e professam interesses falsos (representar o "povo", ou os "oprimidos").
A política burguesa não é um jogo de futebol: mais do que torcer - contra ou a favor - de determinado governo, partido ou político profissional, é essencial demonstrar que não devemos nos deixar dominar pela aparência dos fenômenos. É preciso negar e denunciar radicalmente o jogo de cartas marcadas que é a política institucional no capitalismo e se auto-organizar, visando constituir outra sociedade, com outras regras e que não se fundamente mais na competição, mercantilização e burocratização das relações sociais.
Para finalizar, é sempre bom relembrar a letra da canção, na qual as supostas diferenças entre esquerda e direita, direitos e deveres, os patetas e os poderes explicitam que se trata de dois lados da mesma moeda chamada capitalismo: "nossos sonhos são os mesmos há muito tempo, mas não há mais muito tempo pra sonhar."

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Contra os cortes na educação e a reforma previdenciária!!!

Contra os cortes na educação e a reforma previdenciária!!!

O atual governo, por meio de seu Ministro da Educação, cortou 30% dos recursos das universidades e institutos federais, o que inviabiliza o trabalho destas instituições já no segundo semestre de 2019. Também, cortou 47% do Fundo Nacional para Educação Básica – FUNDEB, o que implicará em mais precarização das escolas e do trabalho das professoras e professores da educação básica em todo o Brasil. Essas medidas atendem apenas aos interesses do capital e são contra as necessidades da população, pois existem outros setores em que os gastos poderiam ser cortados Tais políticas só precarizam ainda mais a educação estatal (pública).

Mas o mais dramático para os trabalhadores ainda está em tramitação no Congresso Nacional, a reforma previdenciária. Justificada por argumentos conhecidamente mentirosos, implicará no aumento da idade para se aposentar (podendo chegar até 70 anos), redução para 400 reais do valor do BPC – Benefício de Prestação Continuada, insegurança para quem recebe algum auxílio do INSS, diminuição das pensões por morte etc. Assim, se você recebe ou tem amigos e familiares que recebem alguns destes benefícios, saiba que estão ameaçados. 

Essa política deu errado em todos os países onde foi implantada (a exemplo do Chile, país com maior índice de suicídio entre idosos, pois mais da metade recebe menos de um salário mínimo). Não há nenhum indicativo de que dará certo aqui também. O que é evidente é o interesse dos bancos em abocanhar os bilhões que a Previdência gera todo ano. A reforma previdenciária beneficia o capital e prejudica as classes trabalhadoras.

Qual deve ser a posição dos trabalhadores e estudantes?

As classes trabalhadoras devem se posicionar diante do que está acontecendo. Precarizar ainda mais a educação, significa piorar as condições de estudo dos filhos dos trabalhadores. Destruir a previdência, significa impedir os idosos das classes trabalhadoras o acesso à aposentadoria, auxílio doença, pensão etc. A classe capitalista e seu estado efetivam uma luta contra as classes trabalhadoras e essas devem reagir lutando contra o capital.

Os velhos sindicatos e partidos políticos estão de tal modo preocupados com a garantia de seus interesses, que são uma barreira à luta dos trabalhadores. Não devemos confiar nos sindicatos, pois servem aos próprios interesses e estão aliados ao capital. Os partidos políticos? Embora falem em nome do “povo”, estão de olho nas próximas eleições, na busca por cargos, poder, interesses financeiros etc.

Assim, partidos políticos e sindicatos devem ser abandonados e superados!!!!

Criemos nossas próprias organizações em nossos locais de trabalho, de estudo, de moradia. Criemos espaços de estudos, reflexões e articulação para constituir alternativas políticas. Os trabalhadores devem combater as nocivas políticas governamentais e para isso devem ampliar sua consciência do que está em jogo e criar comitês de luta popular para efetivar ações e pressões contra elas. Somente assim podemos combater os retrocessos e criar espaço para avançarmos rumo à transformação social e solução definitiva dos problemas sociais. O Movimento Autogestionário (MOVAUT) se coloca à disposição para contribuir com este processo.

Contra o estado e o capital!
Pela auto-organização dos estudantes e das classes trabalhadoras!!
Lute pela Autogestão Social!!!
MOVAUT - Movimento Autogestionário – http://movaut.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de maio de 2019

CONTRA O PERSONALISMO

TEXTOS E DEBATES




CONTRA O PERSONALISMO


Rubens Vinicius da Silva

O personalismo (entendido aqui como o processo no qual se efetua um isolamento fantástico de um ou mais indivíduos do conjunto das relações sociais concretas e específicas de um território e contexto sócio histórico) é um grande entrave na compreensão dos fenômenos sociais e da história humana. Tal história tem sido, nas sociedades de classes, a história das ilusões.


Assim, para superá-las, não se trata de criticar ou denunciar um ou mais membros da polícia, do governo, do partido/sindicato x ou y, e sim entender as relações sociais fundamentais que se dão dentro e fora dessas instituições como um todo.


O personalismo liga o desenvolvimento das sociedades, suas mutações e de suas lutas históricas às façanhas ou mentes e ideias “geniais” de “grandes personalidades”: tal procedimento intelectual vai ao encontro da perspectiva burguesa, que ignora a constituição histórica e social dos seres humanos, seu pertencimento de classe, valores, ideias, sentimentos e mentalidade. Ademais, isola determinadas características desses indivíduos (geralmente membros das classes superiores) e abandona o ponto de vista da totalidade: são os seres humanos reais, históricos e concretos que travam suas lutas e, desse modo, fazem a história a partir das condições legadas do passado.


A luta cultural assume papel importante no combate ao personalismo: isso porque resgata as lutas de classes, os interesses das classes (do proletariado em especial, a classe potencialmente revolucionária de nosso tempo) e setores que contestam a sociedade capitalista. Além disso, é a partir da luta cultural que se denuncia como o ponto de vista que reproduz a concepção da história fundada na ação grandiosa de “grandes indivíduos” em realidade diz muito sobre a necessidade de manutenção das relações de exploração e dominação características da sociedade moderna.


Assim, é fundamental fazer avançar a formação intelectual e política das classes inferiores e demais setores contestatários, no sentido de se organizar não contra o governo, a polícia, ou o partido político de x ou y e sim contra os fundamentos da sociedade capitalista e da sua totalidade, uma vez que são as relações sociais capitalistas as geradoras da miséria psíquica, cultural e material que aflige a humanidade. Dessa forma, a revolução proletária não busca eliminar indivíduos ou culpá-los isolada e moralmente por todas as relações sociais capitalistas e sim destruir as instituições, organizações e o conjunto dessas relações sociais, marcadas pela exploração, alienação e dominação.


No capitalismo, as organizações dominantes são as que se baseiam na divisão do trabalho entre dirigentes e dirigidos, relação social que é fundamental na manutenção das sociedades de classes. Nessas organizações o personalismo se manifesta no fato de os seus eventuais avanços e recuos na dinâmica organizacional serem atribuídos aos indivíduos que pertencem à classe dominante ou aos membros das frações de suas classes sociais auxiliares, em detrimento da negação aberta das contradições, conflitos e tensões existentes em virtude das lutas concretas ocorridas no seu interior. Nesse sentido, os vínculos daqueles que possuem os cargos de direção (e, por conta disso, tomam as decisões e fixam os objetivos no seio das organizações burocráticas) com os membros da classe dominante é mais do que nítido, de modo que os exemplos recentes proliferam.


Da mesma maneira, o aniversário de algumas experiências históricas e processos sociais dá a possibilidade de confirmar que a deformação da história efetuada por intermédio do personalismo tem se repetido: ora como tragédia, ora como farsa.


Ou seja, a grande questão é fomentar outras formas de organização, especialmente entre os trabalhadores produtivos, o proletariado, assim como nas demais classes e outros setores da sociedade que contestam o capitalismo. Não há como lutar pela superação do capitalismo reproduzindo a sua dinâmica; deste modo, a auto-organização deve ser um princípio fundamental das lutas.



Mas não ela como um fim em si: é preciso articular as lutas e lutadores reais, que se formam em oposição direta aos partidos e sindicatos, com um projeto de abolição e superação da sociedade capitalista. Não há como ter unidade com os inimigos de classe: mesmo aqueles que aparentam ser mais próximos e íntimos.


É por aí que passa o avanço num sentido revolucionário: o horizonte da transformação também passa pelo resgate das experiências históricas de luta, demonstrando o papel contrarrevolucionário de partidos e sindicatos. São estes últimos que pela ação direta de suas burocracias em determinados momentos históricos oscilam entre a sua função de classe auxiliar da burguesia ou buscam se autonomizar, expressando seus próprios interesses no sentido de se tornar a nova classe dominante, em especial quando do avanço das situações revolucionárias.


A história das lutas de classes demonstra que é justamente em períodos de avanço das lutas revolucionárias, autogeridas, que o papel de partidos, sindicatos e do estado se evidencia. Eles têm medo e horror à superação das relações de produção burguesas, pois isso significaria o fim de sua razão de existência, isto é, a de ser uma fração de classe auxiliar dos capitalistas.


Apenas combatendo de forma direta o personalismo (e as organizações burocráticas que o sistematizam e reproduzem) e, neste mesmo processo, forjando o embrião de uma sociabilidade e de uma sociedade sem dirigentes e dirigidos, nem exploradores e explorados, é que efetivamente estaremos constituindo um mundo no qual possamos ser socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres, fundado na autogestão social generalizada.

"A revolução proletária tem que destruir um poderoso sistema desde a raiz e criar algo de bem novo à mais larga escala. Para esta tarefa não são adequadas as forças dos partidos e sindicatos. Mesmo as mais fortes organizações são demasiado fracas para isso. A revolução proletária só pode ser obra da totalidade da classe proletária."

Otto Rühle

quinta-feira, 11 de abril de 2019

DITADURA, DEMOCRACIA OU AUTOGESTÃO SOCIAL?

TEXTOS E DEBATES


DITADURA, DEMOCRACIA OU AUTOGESTÃO SOCIAL?

Lucas Maia

Com toda esta babel em torno da questão da ditadura militar no Brasil, se ela existiu ou não, a consciência e a luta para a superação do capital e do estado recuou. Ao invés de se apontar o fim do estado, defende-se o estado democrático. Ao invés de se lutar pela constituição de outra sociedade (que eliminaria as ditaduras), luta-se para defender a democracia. Esquece-se com isto que a democracia é somente uma das formas de regime político do estado moderno, portanto, do capital.

Abandona-se assim a luta contra o capital e contra o estado em nome da defesa da democracia. Os setores mais radicalizados, o bloco revolucionário, se entram neste discurso, devem fazer alianças com liberais, social-democratas e toda a esquerda oficial que defende o estado democrático de direito.

Obviamente que lutar em um estado democrático é menos perigoso que em um estado ditatorial, pois, nas ditaduras (civis ou militares), a repressão estatal é generalizada e tende a perseguir todos os espectros políticos, organizações, indivíduos que se opõem ao poder estabelecido. As chamadas garantias democráticas (direito de organização, liberdade de expressão etc.) são cassadas. Isto não impede, contudo, que a luta na democracia, quando excede o tolerado pelo estado democrático de direito, torne este mesmo estado democrático tão abusivo quanto um estado ditatorial.

Além disto, as revoluções do século XX provam que elas emergem em qualquer tipo de regime político. Por exemplo, as revoluções russa (1905 e 1917) emergiram contra um estado ditatorial. O mesmo vale, por exemplo, para a revolução portuguesa de 1975, que surge dentro da ditadura de Salazar. Também, nos regimes democráticos, ocorreram importantes processos revolucionários: Revolução alemã de 1918 a 1921, o Maio de 1968 na França. Mesmo dentro do chamado “socialismo real”, na verdade um capitalismo de estado, emergiram importantes processos revolucionários contra as ditaduras dos estados “socialistas”: Hungria em 1956 e 1968, Polônia na década de 1980, etc.

Resta, portanto, colocar à frente da reflexão e da luta, não os interesses deste ou daquele partido, deste ou daquele regime político (ditadura ou democracia?), deste ou daquele grupo identitário, mas os interesses de classe (o das classes desprivilegiadas em geral e sobretudo do proletariado). Só assim superaremos a sinuca de bico ao demonstrar que para o proletariado, lutar contra a ditadura não implica em apoiar a democracia, pois o que está em jogo é a superação do capital e do estado (logo, de seus regimes políticos também). O que está em pauta, pois, é a constituição de uma nova sociedade radicalmente distinta da existente, fundada na autogestão social.

Ou é isto ou se ficará eternamente vítima das chantagens da classe dominante e suas classes auxiliares (burocracia e intelectualidade).