Matheus
Almeida
"Não
existe capitalismo sem racismo", disse certa vez Malcolm X.
Se o que
Malcolm X colocou está correto, então toda luta contra o racismo que não lute
também contra o capitalismo é uma luta pela metade. Afinal, enquanto houver
capitalismo haverá racismo.
Do mesmo
modo, se esta afirmação é correta, então toda luta contra o capitalismo que não
lute também contra o racismo é uma luta pela metade. Afinal, poupar um elemento
tão caro ao capitalismo, como é o racismo, implicaria não combatê-lo por
inteiro. Logo, enquanto houver racismo, o capitalismo não estará plenamente
superado.
Portanto,
a luta antirracista autêntica (e, logo, radical, porque vai à raiz do racismo)
é aquela que combate também o capitalismo, e a luta anticapitalista autêntica (ou
seja, radical, que vai à raiz do capitalismo) é aquela que combate também o
racismo.
Se isto
está correto, vemos que tarefas estão colocadas: nada menos do que uma
revolução social generalizada, que destrua todas as relações sociais
capitalistas e racistas, construindo em seu lugar novas relações sociais
produtoras de uma humanidade emancipada.
Concordando
com este objetivo, o meio para alcançá-lo haveria de ser: Trabalhadores de todo
o mundo, uni-vos, há muito o que revolucionar. A luta contra o racismo não é
tarefa somente dos negros, é dever de todos aqueles que pretendem transformar
radicalmente este mundo; Negros revolucionários de todo o mundo, unamo-nos. A
luta contra o capitalismo é necessária para superarmos o racismo, e nessa luta
não podemos selecionar (ou querer melhor "representar") a cor das
classes inimigas.
Soma-se a
estas nossas tarefas a necessidade de combater
toda forma de ilusão e imposição de limites a esta luta, que são precisamente
tarefas das classes inimigas. Neste sentido, ilusão e limitação são armadilhas
que cumprem o mesmo papel que a repressão: atuam no interesse da manutenção da
sociedade vigente.
Assim, se
o capitalismo no atual regime de acumulação integral [1] reserva às classes
inferiores as formas mais degradantes e miseráveis de vida, e se a maioria da
população negra foi jogada no interior destas classes, o que em países como
Brasil e EUA é uma realidade advinda do escravismo e continuada no capitalismo,
não resta dúvida de que temos de combater velhas e novas formas de dominação e
opressão.
Diante
disso, o enfrentamento deve se dar tanto às antigas e contínuas práticas
brutais de assassinatos, torturas e humilhações a que os negros são submetidos,
como também a novas formas de ilusão e limitação, como o microrreformismo [2], as
ideologias de representatividade, de empoderamento e qualquer outra que vise
substituir a luta revolucionária por disputa por migalhas, êxitos individuais e
melhor integração na sociedade capitalista. Estes são os imensos desafios para
o avanço da luta antirracista e anticapitalista.
Um mundo
onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres, numa
sociedade após a abolição do capitalismo e do racismo, isto é, na autogestão
social, é o que a vitória dessa luta nos reserva à frente.
[1] Sobre
o regime de acumulação integral:
[2] Sobre
o microrreformismo e a integração dos movimentos sociais no capitalismo
contemporâneo:
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