A greve deflagrada na Universidade
Federal de Goiás apenas reforça uma tendência nacional que aglutina mais de 50
universidades federais paralisadas. A grande questão é o que está em jogo nesse
movimento grevista. A questão principal é saber as razões da greve e quais seus objetivos.
A razão da greve parece evidente para
quem tem acesso às informações divulgadas pelos grevistas e por outros meios.
Os professores entraram em greve nem tanto para ter benefícios, mas sim para conter malefícios.
O plano de carreira é um dos principais aspectos, pois aponta para uma ainda
mais intensa precarização das
condições de trabalho dos professores universitários, com aumento da carga
horária, aumento de tempo para ascensão funcional, perda de autonomia,
atrelamento das pesquisas à burocracia universitária, etc., e tem consequências
nefastas para a qualidade de ensino, a produção intelectual, entre outros
problemas que atingem toda a comunidade acadêmica em geral. Ao mesmo tempo,
estudantes e técnico-administrativos entram em greve. A greve dos estudantes
tem relação com a percepção de que os problemas elencados acima não atingem
apenas os professores, mas todos e principalmente os alunos e futuros
profissionais. Além disso, somam-se problemas especificamente estudantis
(restaurante universitário, condições de estudo, etc.). Os
técnico-administrativos entraram em greve recentemente e não tiveram suas
reivindicações atendidas e que remete para questão de carreira, salários, entre
outros e que acabam influenciando na vida acadêmica também. Ou seja, os três
setores tem motivos para entrar em greve e tais motivos estão inter-relacionados
e são perpassados por uma questão única: a
precarização das universidades federais que atinge toda a comunidade
acadêmica. Esse processo de precarização não começou hoje. Ele vem desde o
Governo Collor, passando pelo Governo FHC até chegar aos governos Lula-Dilma. É
o resultado da nova configuração do capitalismo que a partir dos anos 1980
inicia a instauração do regime de acumulação integral (neoliberalismo,
reestruturação produtiva, neoimperialismo) e gera uma ofensiva contra os
trabalhadores em geral, buscando aumentar a exploração em todos os níveis e os
governos neoliberais (que podem ser comandados por partidos ditos
“socialistas”, “dos trabalhadores”, etc.) buscam diminuir gastos sociais e com
instituições estatais e ao mesmo tempo, como consequência, assume um caráter
mais repressivo. Nesse contexto, a precarização atinge as universidades federais
e provoca não somente perdas salariais, péssimas condições de trabalho, como,
ainda, queda da qualidade de ensino, máscara produtivista e quantitativista que
a disfarça, etc., reforçando a força competitiva do ensino superior privado em
expansão desde os anos 1990 com apoio governamental, inclusive financeiro. Essa
situação se constituiu a partir da força
persuasiva, participação de ativistas
em movimentos sociais, e efeito
ilusório de um governo cujo partido
que se diz “dos trabalhadores” e, no entanto, representa os interesses da classe dominante
subordinada ao capital transnacional.
Quem perde com isso é a população em
geral, pois a política educacional aponta para a reprodução da subordinação ao
capital transnacional e intensificação da exploração internacional – e o
elevado PIB do Brasil convivendo com situação de miséria e sucateamento dos serviços de saúde, educação, etc. mostra isso. Do
ponto de vista de luta dentro do capitalismo, seria fundamental avanço
educacional, tecnológico e científico, mas esta não é a política do atual
governo, pois a classe capitalista brasileira é uma associada menor que lucra
com tal situação. Para isso mobiliza suas classes
auxiliares, especialmente a burocracia
(estatal, partidária, sindical, universitária, etc.) visando implantar suas
diretrizes políticas. Por isso, partidos e sindicatos atrelados ao governo
buscam dificultar o processo de desencadeamento de greves e ações dos
trabalhadores. Os demais querem conquistar o governo ou sindicatos sem nenhum
projeto político alternativo a não ser no caso de partidos leninistas que
pregam o capitalismo de estado
(vulgo “socialismo real”), que é apenas o reino da burocracia e manutenção da
exploração dos trabalhadores. Nesse sentido, somente a luta dos trabalhadores
em todos os lugares, em todas as frentes, pode reverter essa situação e apontar
para novos caminhos, indo da resistência
à imposição de medidas neoliberais até a luta pela transformação social, pela autogestão social. Essa é uma luta de todos e em todos os lugares e por isso é necessário articular as lutas nas universidades
federais com as de outros setores da sociedade. Não lutar é deixar o fascismo
se aproximar e ele já está próximo através da política repressiva do neoliberalismo atual. Lutar é fundamental,
através de iniciativas individuais, coletivas, apoio ao movimento grevista,
etc. A única esperança está na luta.
Movaut –
Movimento Autogestionário (http://sementeira.movaut.net)
* Devido questão de
espaço, o presente texto é apenas um panfleto para esboçar algumas ideias que
são aprofundadas em outros textos que podem ser acessados no seguinte endereço:
http://movaut.blogspot.com.br/p/greve-nas-universidades-federais.html
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