segunda-feira, 30 de julho de 2018
sexta-feira, 27 de julho de 2018
Nova edição da Revista ENFRENTAMENTO - PARA UMA CRÍTICA DA BUROCRACIA
Disponível a nova edição da Revista Enfrentamento!
Esta edição conta com contribuições de Nildo Viana, Edmilson Marques, Diego Marques, Rubens Vinícius e Jan Waclaw Makhaïsky, onde os autores aprofundam a crítica da burocracia (como classe social e forma organizacional) e do processo de burocratização do conjunto das relações sociais, iniciados na edição anterior.
Do editorial:
"A classe operária, nos momentos de radicalização de suas lutas, torna consciente esta característica das lutas sociais. Contudo, cessado o ciclo de lutas, tal aprendizagem, via de regra, não se acumula, não se sedimenta. Em um novo ciclo, ela deve aprender de novo, pois surge uma nova geração de trabalhadores que aprende, novamente, por si mesma, o significado da burocracia enquanto classe. Somente quando houver a superação desta situação, de modo continuado no tempo e no espaço, é que veremos a possibilidade de uma nova sociedade se apontar no horizonte. A burguesia, quando a classe operária entra em luta, é facilmente identificável como inimiga. Essa identificação também ocorre com o estado, pois este acorre em reprimir o movimento. As burocracias inferiores, contudo, são as últimas a serem percebidas como inimigas. Quando isto acontece é porque a luta de classes já está radicalizada a níveis perigosos para a classe dominante. E esta faz tudo o que puder para evitar este degrau na luta do proletariado.''
terça-feira, 24 de julho de 2018
domingo, 1 de julho de 2018
REFLEXÕES AUTOGESTIONÁRIAS 07: O QUE É SER REVOLUCIONÁRIO?
O QUE É SER REVOLUCIONÁRIO?
Carlos Henrique Marques
Uma das questões que surgem na sociedade capitalista e que é
sempre motivo para questionamento dos militantes autogestionários é sobre o que
é ser revolucionário. Ser revolucionário é apenas defender o projeto
autogestionário, ou seja, ficar no nível das ideias? Apresentaremos,
sinteticamente, uma resposta para isso.
O projeto autogestionário é parte e não a totalidade do
movimento revolucionário. E tanto as ideias autogestionárias quanto os demais
elementos do movimento revolucionário estão marginalizados em nossa sociedade
no atual momento. E não poderia deixar de ser, pois sempre foi assim.
Em épocas de ascensão das lutas, estas saem da posição
marginal e disputam, no interior das classes desprivilegiadas (e não na
sociedade como um todo) a hegemonia e em momentos revolucionários se torna
hegemônico. O movimento revolucionário é uma totalidade, que dentro do
capitalismo, se manifesta fundamentalmente no plano das ideias, pois no plano
das relações de produção permanece o capitalismo e o estudante, o intelectual,
o professor, o operário, estão reproduzindo o capitalismo, seja produzindo
mais-valor (operário), seja reproduzindo as instituições capitalistas
(professores e estudantes reproduzindo a escola, a universidade) que possuem a
função de reproduzir o capitalismo...
Obviamente que há a militância revolucionária, mas esta é,
fundamentalmente, cultural e teórica. Ela é também de intervenção nas lutas,
ações junto aos trabalhadores, etc., sendo essa parte mais limitada, tanto por
existirem poucos revolucionários (indivíduos e grupos) quanto por existir pouca
ressonância na sociedade. Ela consiste em formar grupos revolucionários,
divulgar e fortalecer a luta cultural[1], atuar no interior do
movimento operário, movimentos sociais, sociedade civil, quando isso é
possível.
O problema é considerar que ser revolucionário é agir quando
existe agitação, sendo que, na verdade, ser revolucionário é fazer o trabalho
cotidiano para fortalecer a hegemonia proletária em certos setores da sociedade
e que pode ocorrer também quando existe agitação, desde que na perspectiva
revolucionária, embasada numa estratégia revolucionária e de acordo com as
possibilidades de ação. Daí é fundamental ter em vista a distinção entre “ação
desejável” e “ação possível”. A ação desejável é a que desejamos realizar, que
pode se concretizar se for possível. A ação possível é aquilo que damos conta
de fazer em determinado contexto. Por exemplo, fazer propaganda revolucionária
generalizada no centro de uma grande capital é uma ação desejável, mas isso
depende de recursos, militantes, etc., e num regime ditatorial, não é possível.
Seria uma ação desejável, mas não uma ação possível. Para saber se é uma ação
possível é necessário ter estratégia revolucionária e análise da conjuntura no
sentido de compreender se há necessidade, possibilidade e utilidade em
determinada ação.
Ser revolucionário não é apenas fazer discurso e nem apenas
fazer agitação quando existe mobilização. Não se trata de apenas fazer
discurso, mas sim de uma luta cultural, que assume inúmeras formas (propaganda
generalizada, produção artística, produção teórica, divulgação de ideias,
conversação cotidiana, etc.) e que tem pressupostos (autoformação, reflexão,
estratégia, etc.). Da mesma forma, não se trata de apoiar toda e qualquer
mobilização (é preciso saber de quem, com que objetivos, com quais
reivindicações, quais suas tendências e consequências, etc.). Existe uma
tendência, ligada ao praticismo e ativismo, de considerar que ser
revolucionário é estar nas agitações e mobilizações. Isso é ser rebelde ou ser
oportunista (depende da forma e objetivos pelos quais se faz isso), ou, ainda,
ser ingênuo.
Ser revolucionário pressupõe objetivar a revolução e para
isso é preciso saber o que é uma revolução e como elas se realizam e,
historicamente já foi comprovado que o voluntarismo nunca gerou revoluções. A
revolução é produto de uma classe social específica, o proletariado, e que pode
até emergir a partir de lutas de outros setores da sociedade, mas não pode se
concretizar sem ele. Se não há no movimento operário uma tendência para a
revolução, de nada adianta o voluntarismo ou agitação. A agitação e mobilização
sem essa tendência, pode gerar o efeito contrário do que se espera ou a repressão
e enfraquecimento do movimento revolucionário. Por isso o militante não deve
ser voluntarista e se considerar uma “vanguarda” e nem cair no reboquismo. O
militante realmente revolucionário deve fazer um trabalho mais profundo e
cotidiano de buscar criar condições favoráveis para uma vitória do
proletariado. Esse trabalho deve ser cotidiano e fornecer armas para a luta do
proletariado, tal como elementos de cultura, ideias revolucionárias, etc., para
quem, em momentos de agitação e crise, haja o processo de autonomização do
proletariado e sua passagem para classe autodeterminada.
Ser revolucionário significa uma luta cotidiana e constante,
inclusive dos indivíduos contra eles mesmos (muitas vezes é preciso sacrificar
os interesses pessoais para manter-se como revolucionário). É uma luta contra
toda a sociedade existente, contra os valores dominantes, as ideias
hegemônicas, as pressões sociais sob inúmeras formas. Ser revolucionário
pressupõe ser forte e corajoso. Inclusive para não cair nas armadilhas do
voluntarismo e da necessidade de dar satisfação para os outros de suas ações e
posições, especialmente, nesse caso, para os progressistas (especialmente
social-democratas e leninistas), pois eles necessitam de ativismo para garantir
seus votos, uma imagem positiva diante da população, etc. Eles não são
revolucionários e não entendem o que é ser revolucionário e por isso suas
cobranças aos militantes autogestionários são ridículas e pautadas no
reformismo e, na maioria dos casos, no oportunismo. Um revolucionário não se
mede pelo discurso dos progressistas e sim pelo seu compromisso com a
transformação radical e total das relações sociais e isso leva, fatalmente, a
crítica ao capitalismo e suas expressões políticas e culturais variadas e ao
falso socialismo dos progressistas, um elemento contrarrevolucionário que
muitas vezes se infiltra no movimento operário e lutas sociais.
O revolucionário pode e deve ir em manifestações, apoiar
greves, etc., mas não é um agitador, um aventureiro, um voluntarista. Esse
momento da luta revolucionária é necessário quando embasado numa estratégia
revolucionária, o que pressupõe uma análise e reflexão sobre sua ação e
contexto. Um revolucionário jamais se dedica à “ação pela ação”, pois o seu
objetivo é ação para a revolução. Por
isso não se pode perder de vista nunca o objetivo e o significado de cada
ideia, ação, posição, em relação ao objetivo final (revolução e autogestão).
Por isso é necessário, também, superar o romantismo e o
obreirismo, buscando participar de toda e qualquer manifestação ou agitação,
por causa de um pressuposto, equivocado e não-marxista, de que o “povo”
(inclusive existem obreiristas que acabam achando que caminhoneiros são
“proletários” ou “revolucionários”) é naturalmente e espontaneamente revolucionário.
É preciso entender quem é o proletariado e quem são as outras classes, frações
de classes, categorias profissionais, etc., e seus interesses (muito mais que
seus discursos, que devem ser analisados também, mas a partir de uma concepção
totalizante e que se atende para as relações sociais concretas e os interesses
envolvidos nas lutas sociais por cada setor da sociedade). O proletariado é
potencialmente revolucionário e é na luta que isso se concretiza. Essa luta é
uma luta de classe e não se limita a meras “manifestações” de rua, algo pouco
politizado e que pouco pode fazer para avançar a luta proletária. A luta do
proletariado se revela muito mais – e de forma muito mais profunda e radical,
nas ações no local de trabalho, nas greves, no desenvolvimento da consciência
revolucionária (autoformação) e na constituição de formas de auto-organização.
É por isso que o militante revolucionário deve buscar fortalecer esses
elementos e é via luta cultural que ele pode, efetivamente, contribuir com esse
processo. No entanto, a maioria dos militantes pouco agem em momentos de
calmaria e em momentos de agitação se transforma rapidamente em ativista, sem
ter estratégia, o que pressupõe reflexão e análise. Nesse sentido, o
revolucionário reproduz o que faz o operário: passa da calmaria à agitação
quando esse o faz. Mas o bom revolucionário é aquele que se antecipa, que busca
criar condições favoráveis para o movimento operário conseguir sua vitória. O
mau revolucionário é aquele que vai com as ondas, que não consegue distinguir
luta operária de lutas de outros setores da sociedade e que fica entusiasmado
com agitações que não possuem nada de revolucionárias e que nem contribuem com
a ascensão da luta proletária ou fortalecimento do bloco revolucionário.
Em síntese, ser revolucionário é um projeto de vida e não é
o mesmo que ativismo e voluntarismo. E o projeto autogestionário é o elemento
fundamental e definidor do revolucionário. Ser revolucionário não é apenas ter
um projeto autogestionário, ou “ideias autogestionárias”, é ter e buscar
concretizar esse projeto através da luta. O revolucionário age sob várias
formas, mas a forma principal é a luta cultural. Esse é o elemento fundamental
do bloco revolucionário e no que ele mais contribui com o movimento operário e
o ajuda a realizar sua potencialidade revolucionária. A formação de centros de
contrapoder, a colaboração em greves e outras ações proletárias, são
importantes e necessárias, mas são secundárias, a não ser em momentos
revolucionários. A fusão do bloco revolucionário com o movimento operário
pressupõe uma ampla luta cultural interna (para a superação das ambiguidades,
incluindo o praticismo e o voluntarismo) e uma luta cultural externa pela
hegemonia proletária. O revolucionário é aquele que vive para o futuro e a luta
é o seu modo de ser e só tem sentido apontar para a revolução, o objetivo
final. E toda luta cotidiana deve estar articulada com tal objetivo final, ou
seja, com a revolução que instaura a sociedade autogerida realizando a
libertação humana.
[1]
Sobre luta cultural, confira: Luta
de Classes e Universo Cultural, Hegemonia
e Luta Cultural, Marx
e a Luta Cultural, Luta
Cultural e Propaganda Revolucionária,
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