GREVE, QUE GREVE? CONTRA AS BUROCRACIAS E A FALSA POLARIZAÇÃO BURGUESA: A FAVOR DA AUTOGESTÃO DAS LUTAS
Por Rubens Vinícius, 28/11/2017
Em 5 de dezembro deste ano, teremos a última das três
tentativas desesperadas da burocracia partidária e sindical, levando de arrasto
seus militantes e simpatizantes, bem como os dirigidos e controlados dentro de
tais organizações, de produzir uma "greve geral". É muito
interessante perceber como que nas ocasiões anteriores (28 de abril e 30 de
junho: mês que vem dificilmente acontecerá algo fora do "roteiro"),
não havia nenhuma ressonância entre o discurso dos burocratas reformistas e a
miserável realidade concreta das classes exploradas.
Tal conclusão aponta para algumas questões: a) sendo cada
vez mais nítido o esgotamento e descrédito dos trabalhadores em geral frente
aos partidos e sindicatos, como os revolucionários devem se posicionar? b) é
possível fomentar outras formas de organização e objetivos que não se limitem
ao contexto atual, marcado pela defensiva ante as reformas neoliberais?
A resposta para a primeira pergunta pressupõe um duplo
movimento: em primeiro lugar, trata-se de desenvolver formas de se aproximar do
conjunto das classes trabalhadoras, constituindo expressões que superem a falsa
polarização burguesa (conservadores x progressistas), na forma de um combate
implacável aos partidos e sindicatos. Aliado a isso, devem ser denunciadas
todas as propostas que apontam para a reprodução acrítica desta sociedade (as
falsas problemáticas em torno da ideologia do gênero, da escola sem partido,
eleições 2018, etc.).
Ao mesmo tempo, este movimento necessita criar propostas
reais, as quais apontem para a necessidade de auto-organização dos
explorados/dominados pelo capital e controlados/dirigidos pelas burocracias.
Estas devem se articular com um projeto revolucionário/autogestionário. Ou
seja, a auto-organização como um fim em si mesmo (o combate às reformas), não
articulada, relacionada e unificada com uma verdadeira greve geral (que, num
primeiro momento, remeta para a paralisação dos locais de produção, atingindo a
essência do modo de produção capitalista, o mais-valor). A greve deve ser
simultaneamente ofensiva (atacando as relações de produção capitalistas) e
defensiva (posicionando-se contra as reformas, capitalistas, burocratas e o
estado em geral).
Claro está que tudo isso não deve estar pronto e acabado nos
próximos dias: existe um tortuoso e longo caminho de luta pela frente. Contudo,
se desde já não rompermos radicalmente com todas as ilusões (e aqui me refiro
às organizações burocráticas, tais como partidos, sindicatos, estado, empresas,
escolas, igrejas, etc., bem como às falsas problemáticas do cotidiano) e
enfatizarmos a luta cultural contra a hegemonia burguesa, estaremos fadados aos
pequenos círculos de militantes: uma pequena "bolha" de
revolucionários.
Uma greve[1]
de trabalhadores que se preze não é decretada do alto de um comitê partidário e/ou
sindical: ao contrário, ela é produto da luta histórica e concreta dos
explorados e oprimidos. Cabe aos revolucionários acelerar e antecipar este
processo, generalizando uma propaganda que não tenha compromisso algum com essa
sociedade.
A luta contra o capital é uma luta individual e coletiva:
todos somos educados para reproduzir a sociedade burguesa. Isso revela a
confusão de muitos militantes honestos, os quais diante da atual situação de
refluxo do movimento operário e estabilidade da luta de classes, acabam não
articulando os objetivos imediatos com o objetivo final da luta proletária: a
superação total do conjunto das relações sociais capitalistas.
Assim, cabe aos revolucionários denunciar essa greve
fabricada e artificial, onde os verdadeiros interesses não são os dos
trabalhadores. O necessário desdobramento de tal ação é intensificar a luta
cultural contra a hegemonia burguesa. Do contrário, estaremos fadados à
reproduzir as falsas problemáticas, no bojo de uma falsa polarização, a qual
caminha de mãos dadas com a continuidade da miserável, injusta e desumana
sociedade capitalista brasileira.
A autogestão das lutas pelos próprios explorados rompe com a
separação entre dirigentes e dirigidos, fundamento das sociedades de classes. É
o embrião de novas e superiores relações sociais, pois são atacadas as bases do
capitalismo e neste processo vislumbramos o embrião da sociedade autogerida.
Neste sentido, no que tange aos militantes
revolucionários/autogestionários é mais coerente e estratégico o combate
simultâneo aos progressistas e conservadores: ou somos radicais, indo à raiz
dos processos históricos e sociais, ou então ficamos no limbo e na mediocridade
impostas cotidianamente pela burguesia e suas classes auxiliares.
[1] Na
verdade não se trata de greve (razão pela qual se usa da ironia e das aspas) e
sim de paralisações. Primeiro porque se trata de apenas um dia, geralmente na
sexta, aproveitando para prolongar o fim de semana. Se estivéssemos diante de
uma proposta de greve real por tempo indeterminado, a chamada para este dia da
semana poderia surtir efeitos políticos. Contudo, meras paralisações de um dia,
sem qualquer mobilização, não têm nenhum poder de pressão. Aqui mais uma das
peripécias das burocracias partidária e sindical se revelam: tais paralisações
são apenas para dizer que fazem algo enquanto nada fazem: assim, se ocultam os
verdadeiros interesses desta fração de classe, que são controlar e dirigir os
trabalhadores.